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Pax et Bonum. (Paz e bem)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Nova Evangelização e Fé Cristã

Essa semana comprei o Instrumentum Laboris (instrumento de trabalho) para o Sínodo dos Bispos - XIII Assembleia Geral Ordinária - que acontecerá no  próximo mês. Como de costume, foi feito um levantamento das questões a serem tratadas junto às igrejas particulares do mundo todo. Tais informações foram compiladas e formaram esse documento, e serão usadas no decorrer do sínodo que, dessa vez, irá tratar sobre "A Nova Evangelização para a transmissão da Fé Cristã".
Há quem diga que essa é, senão a, uma das "cerejas do bolo" de Bento XVI, ou seja, algo de grande importância, que vem para complementar tudo o que já foi feito por Sua Santidade até agora... Podemos tirar por base o trabalho que vem tendo o papa, desde o início de seu pontificado, em promover a questão da fé, que, em muito, vem sendo deixada de lado, sendo esquecida: parece que se perdeu o verdadeiro sentido e o valor que tem a fé para a vida cristã.
A publicação dos livros Luz do Mundo e Jesus de Nazaré, de vários documentos, como o Deus caritas est e Verbum Domini e a proclamação do Ano da Fé (através da Carta Apostólica sob forma de Motu proprio Porta Fidei) nos traz um panorama da sua grande preocupação em mostrar Deus e transmitir a fé, fundamentos básicos para a vida do cristão.
Não sem razão Bento XVI já há algum tempo vem frisando tanto a questão da fé. Hoje percebemos uma grande secularização dela, dos valores que o católico tem, fato que conduz a um relativismo e individualismo muito profundos, verdadeiros "pesos", que para nada mais servem senão desorientar a vida da Igreja, que sempre pregou a vivência comunitária, a boa relação entre as pessoas, o Amor, a Caridade (em seu sentido mais amplo, de Caritas, aquele amor incondicional, não meramente assistencial, mas total).
Para tanto, é necessário que haja algo que una as pessoas, um interesse comum, que é a fé, o compromisso cristão sem reservas, a busca incessante pela Vida (não simplesmente a dignidade desta vida, mas a Vida Eterna, fruto da nossa caminhada na fé). Podemos até buscar as coisas deste mundo, essenciais para a nossa "estadia" por aqui, mas devemos aspirar às coisas do alto (cf. Col 3, 2), ou seja, tudo o que fizermos aqui, seja para o louvor e glória da graça de Deus (cf. Ef 1, 6), que é a única coisa de que precisamos, assim como o próprio Senhor nos disse ao dirigir-se a São Paulo: "basta-te a minha graça!" (2Cor 12, 9).
Vivemos neste mundo, mas não para ele. A nossa "estadia" aqui (digo estadia por ser uma caminhada, um tempo, algo transitório) serve justamente para que vivamos de acordo com os preceitos revelados a nós por Deus, para que cumpramos o objetivo da Igreja: "responder ao chamamento universal da santidade" (Instrumentum Laboris, 11 citando Lumen Gentium), que vemos já, com muita clareza, nas cartas paulinas.
Enfim, devemos trabalhar a Nova Evangelização para que a fé seja comunicada com entusiasmo (cf. Instrumentum Laboris, 9). Apenas desse modo é que as pessoas poderão viver seguindo os preceitos que nos foram dados por Deus, por seu Amor.
O Ano da Fé inicia-se em poucos dias, a 11 de outubro, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II e no vigésimo aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica, que são as referências mais acertadas para a construção da nossa fé em Deus, juntamente com as Sagradas Escrituras.
No Brasil, outrossim, vivemos uma realidade ainda mais feliz, não por um motivo, mas dois (relacionados): a próxima Jornada Mundial da Juventude (que irá acontecer no Rio de Janeiro, em plenas atividades do Ano da Fé) e a Campanha da Fraternidade que, no próximo ano, terá como foco a juventude (justamente por causa da JMJ 2013). Não poderíamos ter oportunidade melhor para viver a Nova Evangelização, sobretudo para a juventude, que, em muito, sofre com o secularismo e todos os problemas já ditos antes. A Igreja deve fazer de tudo para que não perca a força que têm os jovens. A nossa missão é transmitir a fé àqueles que ainda não a conhecem.
As cartas já foram mostradas. Basta-nos fazer nossas "estratégias" para que as pessoas conheçam a verdadeira alegria de viver em Cristo e manifestem em suas vidas tal vigor. Subsídios não nos faltam (e não irão faltar, já que uma grande quantidade de materiais está sendo produzida para promover todos esses eventos).
Agradeçamos a Deus por nos permitir viver tamanha graça!

Paz e Bem!




sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Viver na presença de Deus

Hoje, navegando pelo Facebook, encontrei uma publicação do amigo Eduardo Hennerich em seu blog que me inspirou a escrever algumas palavras por aqui.
No texto, ele cita uma bela frase do grande filósofo do século XVIII Jean Jacques Rousseau: "conservai a vossa alma em estado de dizer sempre que há Deus, e nunca duvidareis da sua existência".
Estas palavras, apesar de simples, nos conduzem a uma reflexão deveras profunda, dependendo da análise feita. Gostaria de me desdobrar aqui, brevemente, e tentar discorrer sobre alguns pontos que podem (e devem) ser levados em consideração, ao menos, por um cristão.
"Conservai a vossa alma em estado de dizer sempre que há Deus". Aqui encontramos palavras que se complementam e reforçam-se mutuamente: "conservai" e "sempre". Obviamente, Rousseau fala de um estado de permanência ao considerar que a alma deve deve dizer que há Deus: "sempre há Deus".
Primeiramente, devemos nos ater ao conhecimento de Deus. Ora, como diz o adágio popular: "ninguém ama o que não conhece" e, para dizer que sempre há Deus, é necessário conhecê-Lo.
Tal processo pode parecer muito fácil descrito desta maneira mas, como sabemos, é um grande mistério o conhecimento de Deus, sobretudo por ser Ele um ser soberano, a plenitude do ser, e que somos limitados (como criaturas). Por isso não podemos conhecer plenamente a Deus.
Entretanto, como já nos dava o exemplo Santo Agostinho de Hipona, devemos nos empenhar em buscar o Senhor, e ele, inclusive, já dá a dica: só podemos conhecê-Lo a partir do nosso interior. Santo Anselmo de Cantuária, baseando-se em Agostinho, dizia que é necessário que entremos no mais profundo, nos recônditos de nossa alma, levemos junto apenas aquilo de que precisamos para encontrar a Deus e fecharmos as portas (cf. Proslogion). Ali é que vamos encontrá-Lo. Entretanto, voltando para o bispo de Hipona, conhecemos a Deus procurando no interior, no mais íntimo do íntimo (daí a célebre frase de Confissões X, XXVII, 38: Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro de mim e eu fora [...] Tu estavas comigo e eu não estava contigo"). Para Agostinho chegar a essa conclusão, foram necessários anos e mais anos de vida e de experiência, de conversão, de busca, de reflexão... Foram anos difíceis, foi uma busca difícil, como a nossa é, mas ele conseguiu encontrar (bem como outros na história e, mesmo, hoje, dos quais temos os testemunhos).
Como Anselmo aborda no já citado Proslogion, há questões que se devem conhecer racionalmente (sobretudo para que não se cometam enganos de interpretação), mas há, também, paradoxos, que, como nos afirma o santo, só podem ser entendidos à luz da Revelação (mais especificamente, Sagradas Escrituras e Sagrada Tradição) e as Escrituras nos orientam de maneira perfeita rumo ao conhecimento divino.
Aqui é onde reside o problema: para que se conheça a Deus, é necessário que se conheça bem as Escrituras e o Testemunho Apostólico. Entretanto, tal conhecimento falta em muito na vida das pessoas, de um modo geral, ou por falta de formação, ou por ignorância que, convenhamos, é uma realidade muito evidente e que está muito presente na vida do mundo.
Quanto a isso, só posso citar o Evangelho do 21º Domingo do Tempo Comum, ano B, que celebramos há algumas semanas, onde Jesus exorta com veemência na sinagoga de Cafarnaum a todos os que ali se encontravam (de discípulos a mestres da lei), dizendo o que deveria ser feito para que se alcançasse a salvação. Muitos, entretanto, ficaram espantados e acharam que aquela palavra era dura demais para ser ouvida...
Jesus, entretanto, pergunta: "Isto vos escandaliza?" (Jo 6,61) e completa: "O espírito é que vivifica [...] As palavras que vos tenho dito são espírito e vida" (Jo 6, 63). Mesmo assim, muitos deixaram de segui-Lo a partir deste momento, pois acharam que não seria possível viver daquela maneira. Então, Ele se volta para seus apóstolos e pergunta se eles também não irão querer debandar, ao que respondem: "Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna! E nós cremos e sabemos que tu és o santo de Deus" (Jo 6, 68-69).
A situação em que vivemos nos conduz, quase que automaticamente, a nos colocarmos em retirada da presença de Deus, esquecê-Lo, juntamente com grande parte dos que estão à nossa volta, dizendo que a exortação e o chamado que Ele nos faz são duros demais para se ouvir e viver. Aqui perguntamos: "isto vos escandaliza?", então podeis ir embora com os outros todos que simplesmente rejeitam a missão a que foram enviados e negam que há Deus, pois negar o Seu projeto é negá-Lo!
Ao contrário da grande maioria, somos convidados a abrir os nossos corações e acolher a Palavra do Senhor, por mais dura que possa parecer, afinal, tudo o que temos e fazemos é para a Sua glorificação e nada podemos sem o seu patrocínio: somos levados a repetir o que disse Pedro, afirmando que somente em Deus é que encontramos a vida eterna e reconhecer que Cristo é o Santo de Deus. Foi justamente isso que fez Santo Anselmo, ao afirmar que a razão tem um limite que só pode ser superado pela fé.
A palavra do Senhor nos é dura? Eu digo que na maioria das vezes é, mas precisamos nos lançar inteiramente no Seu Amor e nos deixar conduzir pela sua graça, afinal, é a única coisa que o próprio Deus diz que nos basta, através de São Paulo (2Cor 12,9).
Diante disso, nos deparamos com uma questão muito evidente: o pecado. Como me entregar ao amor de Deus se o pecado me derruba?
Aqui não devemos pensar na queda, mas sim no levantar-se, em Cristo, como novas criaturas. O que fez aquela multidão se afastar das palavras de Jesus na sinagoga de Cafarnaum foi justamente o reconhecimento da sua miséria e a falsa impressão de que não poderia levantar-se. De fato, não conseguiram. Com efeito, só é possível vencer o mal apoiados em Deus, ou seja, aqueles que ficaram, reconheceram que eram limitados, pecadores, mas deixaram-se tomar pela graça divina e levantam-se todos juntos (aqui precisamos a importância da comunidade para a vivência cristã autêntica). São pessoas determinadas, confiantes, que disseram seu sim a Cristo e não ficaram pensando nas suas misérias, pois sabiam, tinham a certeza de que não precisavam se preocupar com elas, já que estavam ao lado do protetor.
Ora, ao viver essa entrega total a Deus, não há como se negar a presença dEle e nEle, ou seja, é uma presença contínua, sem fim, para sempre, é a certeza de que só assim é que se pode viver alegremente. Tal estado de espírito nos leva, automaticamente a reconhecer a cada momento que tudo o que acontece vem de Deus, foi feito por ele.
Todo esse processo se faz necessário para que se conheça, da forma mais correta possível, a Deus. A partir de tal conhecimento, automaticamente, se proclamará que Ele é o único que pode trazer a alegria, a salvação.
Levando-se em consideração que quem conhece é a alma (uma concepção geral na filosofia), se ela conhecer a Deus, não poderá dizer que não há esse Deus, pois estará criando uma contradição em si.
Assim, voltamos à frase de Rousseau: "conservai a vossa alma em estado de dizer sempre que há Deus, e nunca duvidareis da sua existência". É necessário que conservemos nossa vida, nossa alma, de acordo com o que nos diz o próprio Senhor. Dessa forma, diremos que sempre há Deus e, decorrente disso, nunca duvidaremos de sua existência. Percebam que esta segunda parte vem justamente para justificar a primeira, é como que um resumo de tudo o que foi descrito acima. Mais do que uma simples consequência da premissa anterior, é a maneira como devemos proceder.

Espero ter ajudado um pouco. Já há um bom tempo vinha pensando no assunto e só esperava a oportunidade específica, o kairós, para poder publicar.

A publicação do blog do Eduardo pode ser encontrada no link: http://pugnaspiritualis.blogspot.com.br/2012/09/2-nao-deus.html

Cordialmente,
Paz e Bem!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A menina Vitória

Para aqueles que se interessarem, segue o vídeo-reportagem da menina Vitória, anencéfala de dois anos que desafia a ciência por viver tanto tempo sem a ajuda de aparelhos.
Não tenham medo. O vídeo não é repulsivo, muito pelo contrário: transmite uma paz e uma alegria ao ver aquele olhar tão sereno de seu rosto, como quem reconhece o amor que recebe dos pais.
Vale a pena ver e compartilhar! Impossível não ficar emocionado.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Mensagem aos Ministros do STF acerca da aprovação da ADPF 54

Aos Excelentíssimos Senhores Ministros do STF.

Diante do cenário em que vivemos e da atual polêmica, por assim dizer, da aprovação da ADPF 54, não poderia me furtar em dirigir-lhes algumas palavras.
Como Vossas Excelências já devem prever, a causa do envio deste e-mail é justamente a legalização do aborto de crianças anencéfalas durante o período de gravidez.
Não posso, aqui, me colocar no lugar da nação brasileira, já que, infelizmente, nem todos pensam como eu (e respeito a liberdade de expressão, por isso, inclusive estou me manifestando), mas sei que muitos deles concordam com minha opinião, assim como suas caixas de entrada devem estar sendo cheias por e-mail's semelhantes aos meus (e torço para que isso não seja somente uma suposição minha).
Nestes tempos em que vivemos de liberdade de expressão, devemos levar em consideração que a vontade de alguns, por mais destaque que possuam, não pode ser usada como opinião geral. É justamente por isso que estou enviando esta mensagem. Não concordo com o fato de se tirar a vida de um ser humano indefeso. Sei que esse argumento já é bem usado e, por isso, pode não denotar o que realmente quer dizer por si só, infelizmente. Usarei, pois, alguns outros para ver se consigo me manifestar de forma melhor.
Primeiramente, matar um ser humano, esteja ele na condição em que estiver, é, antes de tudo, violação da moral humana e da Constituição Federal de 1988 (cf. Art. 5º). Se fôssemos analisar por esses dois motivos, já seria motivo de embargo da ADPF 54. Entretanto, gostaria de ir mais além.
Uma família que preze por seus valores NATURAIS, não teria coragem de cogitar abortar um filho. Contudo, nos padrões atuais, vendo a situação em que vivem as famílias hoje em dia, percebemos claramente que seus valores não importam mais. Antes de Vossas Excelências pensarem em fazer leis que ajudem essa desunião, deveriam se preocupar em elaborar projetos que protejam a família, não tanto no caráter material, mas social, moral, ético. Como já estamos cansados de ouvir falar, a família é a base da sociedade, ou seja, esta não existe sem ela. Falo isso porque venho de uma família que, não me engrandecendo por isso, mas exortando-os, preza pelos valores que possui por natureza, a começar pela vida, e hoje percebo claramente que tais valores que me foram ensinados desde o berço estão sendo corrompidos pela sociedade que não tem juízo para perceber a desgraça que está atraindo. Outras famílias podem já ter sido destruídas pelo individualismo, pelo relativismo e por tantos outros que vemos hoje na vida no mundo e, justamente por isso, concordam com seu projeto. O conselho é que, primeiramente, deveriam ser re-educadas nos bons valores para depois Vossas Excelências não precisarem perder seu tempo projetando determinações como a ADPF 54, uma vez que não seria necessário e, mesmo que se cogitasse fazer algo do tipo, seria facilmente rebatido.
Está na hora de se fazer o que DEVE ser feito, e não mais o que se faz por impulso, para agradar alguns, ou mesmo a maioria, mas uma maioria pervertida por costumes deturpados devido às más administrações.
A liberdade de expressão é uma realidade e não deve jamais ser contida, já que é um direito de todos. Entretanto, não podemos nos esquecer de que vivemos em uma comunidade, um país, uma nação, todos somos o Brasil e isso também deve ser levado em consideração.
Lembremos que a medicina sempre busca a vida. E hoje, devemos agradecer porque ela já chegou a um nível em que muitas doenças já podem ser curadas e muitas outras, tratadas. Não quero com isso dizer que a anencefalia tenha cura, já que é é um problema de má formação, mas o problema está no fato de o homem achar que as leis humanas superam as leis naturais. Se a pessoa (porque o é, querendo ou não) vai morrer por causa da anencefalia, não cabe a nós, seres humanos, dotados de razão, antecipar isso. Ao contrário, devemos amá-la, desde o momento de sua fecundação até o momento de sua morte, como amamos nossos pais, filhos, cônjuges e tantos outros aos quais temos um afeto especial.
Tenho mais alguns argumentos, mas deixarei-os para outra ocasião, pois temo que estes, somados aos outros, por comporem um texto demasiado longo, possam ser tratados com superficialidade por Vossas Excelências e, se assim fosse, eu nem teria escrito este e-mail, já que a minha intenção é a de sensibilizá-los a respeito de alguns pontos da maneira mais clara e profunda possível.

Desde já, agradeço a atenção e fico no aguardo de uma possível resposta SATISFATÓRIA a respeito do assunto.

Atenciosamente,
Elias Pavan.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O encontro do homem das dores com a mulher dolorosa

Publico a seguir um texto muito bonito, de autoria do amigo padre dom Gregório:
"Encontro! Da realidade e da amplidão de significância desta palavra depende tudo na vida. Tudo se origina de um encontro. Tudo de bom, tudo de menos bom. Do encontro amoroso eterno da Santíssima Trindade originou-se, como transbordamento de amor, a Criação de tudo que existe. Do encontro de Deus com o homem, obra sua, originou-se uma história de amor e harmonia que, rompida pelo pecado, se tornaria “história da salvação”. Dos vários encontros de Deus com os homens ao longo de tal história, originou-se um povo chamado a ser sinal erguido entre todos os povos, um sinal que propagasse a “saída” para a nossa vida: esta saída era a comunhão, a aliança com Deus. Muitos encontros ao longo dos tempos revelaram-nos Deus fiel, amante do ser humano fraco e propenso à infidelidade. Mas um encontro excelente, inigualável, estava ainda por acontecer... E aconteceu no evento maravilhoso da encarnação, quando a doação e o esvaziamento infinitos de Deus encontraram a acolhida generosa de Maria: E o Verbo se fez carne e habitou entre nós... Desde então, Deus voltou a passear com os homens sobre a terra, tal como descrito no Gênesis sobre os primeiros dias da criação. Desde este encontro, o caminho foi redescoberto, o caminho para Deus indicado no rosto tão humano de Jesus! E este rosto tão humano de Jesus não fez outra coisa senão revelar o rosto do Pai: misericordioso, acolhedor, perdoador, benigno, compassivo, infinitamente paciente, e, por estas mesmas razões, todo poderoso. Mas este rosto tão humano de Jesus mostrou também ao Pai o rosto de cada pessoa que vem a este mundo: rosto de menino, de jovem crescendo e confrontando-se com o mundo, de homem que trabalha, de mãe que sofre calada, de medo da morte, de sensação de fracasso, de lágrima quente de amor, de intuição do abandono... Jesus realmente nos revela Deus! Jesus realmente nos revela a nós mesmos... O menino especial de Belém, o adolescente e jovem oculto de Nazaré, o homem que vai tomando consciência de sua origem sem igual, o Filho de Deus que vai revelando o Pai enquanto instaura e anuncia um novo Reino por onde anda... avançava para um encontro definitivo, depois do qual, livre das leis do tempo e do espaço, se encontraria com todos os seres humanos permanentemente, pois, atraindo-os para Si, iria habitar em seus corações fazendo dos mesmos o templo de Deus... O menino avançava para o encontro pascal com a cruz, para o abraço ao santo lenho que mudaria para sempre a história do mundo, pois vencida a morte a partir de dentro torná-la-ia inofensiva a todos... O Filho do Homem avançava para o encontro do Calvário, mas antes, uma vez mais, de modo triste e terno, encontra-se na via crucis com a sua Mãe que logo mais passaria a ser, aos pés da cruz, nossa Mãe. Em Maria, nossa melhor expoente, nossa máxima representante, se dava o encontro do Filho com a Mãe, mas ao mesmo tempo o encontro de toda a humanidade com Deus! Doravante a dor e o sofrimento humanos são povoados por uma presença materna; doravante a dor e o sofrimento das mães são preenchidos e habitados por uma presença divina. Nenhuma lágrima humana cai no vazio, no sem-sentido. Não! Todas são recolhidas e guardadas no coração de Deus. A ternura corajosa de Maria, vencendo a brutalidade hedionda daquele cortejo de subida de três condenados ao Calvário, comoveu o Céu para sempre... Naquele encontro o Céu também ganhou uma Mãe, Rainha dos Anjos e dos Santos. Uma Mãe compassiva. Neste momento, resplandeceu já a vitória da Ressurreição... Mas... Ainda que não tivesse se dado a Ressurreição, graças a este encontro de Jesus sofredor com Maria desolada no caminho para o Calvário, saberíamos do sentido da dor e do sofrimento do Filho do Homem e de todos os homens: tal sentido reside no amor, no amor expresso nos olhares cruzados de Jesus e Maria... Oxalá também nós, em nossas via-crucis cotidianas, cruzemos o nosso olhar com os olhares de Jesus e Maria... Então o sentido brilhará. Então a salvação entrará em nossa casa.
Pe. Dom Gregório Maria Botelho, OSB Oliv."
Lindo texto, reproduzido aqui na íntegra. Sugere reflexão profunda, sobretudo neste tempo de conversão em que vivemos. Muito bom para pensar no sentido da Semana Santa, como forma de ajudar a, de fato, reconhecermos o verdadeiro mistério que iremos celebrar logo mais, na Solenidade das solenidades, a Páscoa.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Novos caminhos, nova vida, ao serviço do Senhor

"Devemos fundamentar nossa fé, a exemplo de São Paulo em suas comunidades, na ressurreição de Jesus".
Foi com estas e muitas outras sábias palavras que dom Joaquim Wladimir Lopes Dias exortou o povo de Deus em sua última missa na Diocese de Jundiaí, ontem (14.03.2012), às 19h na capela da matriz da Paróquia Nova Jerusalém.
Na ocasião, durante o Santo Sacrifício, no momento da homilia, ele fez um chamado à conversão e à entrega a Deus, sobretudo enfatizando a liturgia do dia e o tempo da Quaresma em que vivemos.
Nossa fé deve ser sustentada, realmente, pelo acontecimento que estamos esperando: a Páscoa, na qual celebramos a maior festa, a maior alegria das nossas vidas: o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. É certo que isso celebramos todos os dias, mas não da mesma maneira, não com a mesma alegria como celebraremos no próximo dia 07.04, na Vigília da Páscoa.
"Não está aqui: Ressuscitou!" (Lc 24, 6). Esse deve ser o motivo por estarmos reunidos todos em nome de Deus, justamente por ele não estar mais onde estava, onde deixaram-no, mas por estar onde Deus quer.
É nesse sentido que, como que fazendo uma ponte, desejamos todos a dom Wladimir muita paz e que ele possa cumprir o chamado do Altíssimo na Arquidiocese de Vitória, como auxiliar de Sua Excelência Reverendíssima dom Luiz Mancilla, conduzindo a nova porção do Povo de Deus que lhe foi confiada por meio da Igreja.
Hoje, ao chegar da faculdade no Seminário Diocesano, me lembrei que ele não estava mais aqui, partiu para sua nova morada pela manhã, e senti como que um vazio: alguém estava faltando à mesa do almoço. Há bem pouco ele não está aqui e já está trazendo saudades, como o bom Reitor que foi.
Inobstante, não devemos, nem eu, nem os outros, nos compadecermos disso. Ao contrário, devemos nos alegrar, pois perdemos um pai, mas a Igreja ganhou um Bispo, verdadeiro e legítimo sucessor dos apóstolos, que vai guiá-la e conduzí-la.
"Fiat mihi secundum verbum tuum" Faça-se em mim segundo a vossa palavra (Lc 1, 38). Que Maria, como no seu lema episcopal, possa fortalecê-lo e dar coragem ao senhor, assim como confiou em Deus e não hesitou em dizer seu sim a Ele. O seu sim já está dito. Ficam, agora, as nossas orações para que dê forças na sua nova missão.
Com saudades, lembranças de todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, reconhecem seu grande trabalho por aqui.
Que Deus esteja sempre ao seu lado e que o Espírito Santo ilumine seus passos.

A posse canônica de dom Wladimir será realizada no próximo domingo, dia 18.03, às 9h na Catedral Metropolitana de Vitória, ES, com transmissão ao vivo pela Rede Vida de Televisão.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Carnaval e Quaresma




Um novo (e, ao mesmo tempo, antigo) tempo se aproxima...
Estamos no tríduo intersticial das efemérides momescas (resumindo, carnaval), tempo de alegrias e muita festa.
Teoricamente, esse evento que arrasta as multidões tem, em si, um sentido bem interessante que, apesar de não ser levado tanto em consideração, merece a nossa atenção.

O carnaval é uma festa que remonta dos tempos mais antigos (por volta do século VI antes de Cristo), na Grécia arcaica, onde comemoravam-se as festas bacanais (o nome veio pela tradição romana do deus Baco). Era a situação em que se comemorava a festa da primavera ou o início do ano civil. O tempo foi passando e, de pouco em pouco, já em tempos cristãos, ao invés de se suprimir tais comemorações, os padres da Igreja decidiram por "incorporá-las" no calendário litúrgico. Como eram festas onde se comemorava muito, comia-se muita carne e usava-se máscaras, acabou-se aproveitando a situação para, digamos, comemorar o último dia do ano em que se poderia fazer isso, às vésperas da Quaresma, tempo de jejum e abstinência.
Hoje comemoramos o carnaval e nem sequer nos lembramos do real sentido que tem (mesmo porque muitas pessoas nem levam em consideração que, no dia seguinte, começa um período de quarenta dias de jejum e abstinência e vivem como se fosse um tempo "normal").
Não sou contra o carnaval. Quem quiser aproveitar, fique à vontade, desde que seja desfrutado com santidade e se coloque o verdadeiro sentido no coração).
O que interessa mesmo é a Quaresma, que se inicia após o carnaval, ocasião em que, segundo o Código de Direito Canônico, cân. 1251, "observem-se a abstinência e o jejum na Quarta-feria de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo".
Afinal, para que tais prescrições? Para que fazer jejum e abstinência? Para que se resguardar?
A resposta é bem simples: esse é o tempo de preparação para a maior solenidade da Igreja Católica, a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, ocasião em que se celebra Sua Ressurreição.
É por isso que, por exemplo, na missa, usa-se a cor roxa, não se canta o Glória, não se pronuncia Aleluia, não se batem palmas, não se orna a Igreja com flores coloridas, os instrumentos são moderados etc. Tudo isso para que nos resguardemos e, de certa forma, nos acostumemos com tal maneira de celebrar para que, na celebração da Grande Festa da Páscoa, possamos exaltar com a mais jubilosa alegria, ao entoarmos o Glória, cantarmos Aleluia, batermos palmas com a mais sublime solenidade, ornamentada com os matizes mais diversos e variados em flores nos ornamentos pela Ressurreição de Cristo para a Vida Eterna!
Incrível como a Igreja preza por esse acontecimento de tal forma que propõe uma mudança na nossa maneira de viver para que, quando chegar a hora, possamos exaltar com uma alegria jamais vivida antes.
Bom... Ainda estamos para começar a Quaresma, comecemos a deixar as alegrias da Páscoa para o momento em que iremos celebrá-la e vivamos como cristãos autênticos esse tempo de conversão. Que essa não seja mais uma Quaresma, mas a Quaresma de nossas vidas, a melhor de todas, aquela em que mais vivemos o verdadeiro sentido da
preparação para a Páscoa.
Este tempo nos convida fortemente à oração, à penitência e à caridade. Esforcemo-nos, pois, para que possamos ser mais fiéis a Deus, rezemos para que Ele nos ajude a ser mais santos e que possamos viver esse tempo de Graça nas nossas vidas, deixando-nos converter e ajudando aos pobres, sobretudo em espírito.

Espero poder voltar em breve para escrever
mais sobre esses tempos.

E rezemos todos a Maria, que está junto de seu filho, para que possa nos cobrir com seu manto e nos ajudar a viver esse tempo de recolhimento dignamente, ela que viu seu filho no sofrimento do Calvário e, mesmo assim, continuou até o fim e, hoje, é aclamada como Rainha do céu e da terra. Amém.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo (séc. XII)

Estive dando uma olhada nos meus arquivos antigos e achei esse belo trecho das catequeses de São João Crisóstomo, falando sobre o mistério pascal de Cristo e sua relação com toda a história. É muito bonita. Vale a pena dar uma olhada, é um texto curto.



Liturgia das Horas, vol. II - Ofício das Leituras da Sexta-feira da Paixão do Senhor, p. 415


Das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo (séc. IV)

O poder do sangue de Cristo

Queres conhecer o poder do sangue de Cristo? Voltemos às figuras que o profetizaram e recordemos a narrativa do Antigo Testamento: Imolai, disse Moisés, um cordeiro de um ano e marcai as portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7). Que dizes, Moisés? O sangue de um cordeiro tem poder para libertar o homem dotado de razão? É claro que não, responde ele, não porque é sangue, mas por ser figura do sangue do Senhor. Se agora o inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar no sangue dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o sangue verdadeiro, fugirá ainda mais para longe.
Queres compreender mais profundamente o poder deste sangue? Repara de onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água, como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, transpassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede de um templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.
De seu lado saiu sangue e água (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e profundo. Disse que esta água e este sangue são símbolos do batismo e da eucaristia. Foi destes sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo batismo e pela eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de seu lado transpassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa.
Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão osso dos meus ossos e carne da minha carne (Gn 2,23), que São Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo, de seu lado, nos deu a água e o sangue para que surgisse a Igreja. E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue no sono de sua morte.
Vede como Cristo se uniu à sua esposa, vede com que alimento nos sacia. Do mesmo alimento nos faz crescer e nos nutre. Assim como a mulher, impulsionada pelo amor natural, alimenta com o próprio leite e com o próprio sangue o filho que deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o seu sangue aqueles a quem deu o novo nascimento.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sei que estou um pouco atrasado, mas nunca é tarde.
Estava dando uma olhada nos meus documentos e achei o texto das Kalendas de Natal. É um texto muito bonito, proclamado na missa das I Vésperas do Natal. Um texto muito antigo, extraído do Martirológio Romano que cita os acontecimentos que ocorriam no nascimento de Jesus. Abaixo, segue o texto com as divisões para canto e rubricas. Espero que esteja contribuindo com a dúvida de muitos, as quais, um dia, eu também já tive. Aproveitem.

Kalendas


-Vinte e cinco de dezembro. Primeira lua(*).*
Tendo transcorrido muitos séculos desde a criação do mundo,
-Quando no princípio Deus tinha criado o céu e a terra*
E tinha feito o homem à sua imagem;

=E muitos séculos de quando, depois do dilúvio, +
O Altíssimo tinha feito resplandecer*
O arco-íris, sinal da aliança e da paz;
-Vinte e um séculos depois da partida de Abraão*
Nosso pai na fé, de Ur dos Caldeus;

-Treze séculos depois da saída de Israel do Egito,*
Sob a guia de Moisés;
-Cerca de mil anos depois da unção de Davi*
Como rei de Israel;

-Na sexagésima quinta semana, segundo a profecia de Daniel;*
Na época da centésima nonagésima quarta Olimpíada;
-No ano setecentos e cinqüenta e dois da fundação da cidade de Roma;*
No quadragésimo segundo ano do Império de César Otaviano Augusto;

-Quando em todo o mundo reinava a paz,*
Jesus Cristo, Deus eterno e filho do eterno Pai,
-Querendo santificar o mundo com a sua vinda,*
Tendo sido concebido por obra do Espírito Santo,

-Tendo transcorridos nove meses depois da concepção,*
Nasce em Belém da Judeia da Virgem Maria, feito homem:
-Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo*
Segundo a natureza humana.

[Gloria in excelsis Deo!] ou [Deo Gratias] (**)


(*): Para calcular qual a lua, deve-se ver quando é a lua nova de dezembro e contar quantos dias faltam para dia 24. No caso de 2011, a lua nova ocorre em 24 de dezembro, logo, canta-se “primeira lua”.

Se o Kalendas for feito antes do início da missa (entre a monição ambiental e o canto de entrada) não se canta o “Gloria in excelsis Deo” que está no fim entre colchetes e faz-se o Ato Penitencial normalmente. Se for feito antes do Glória, omite-se o Ato Penitencial e proclama-se o “Gloria in Excelsis Deo” no fim, como introdução para o Glória que o segue (se for o caso pode-se omitir este versículo, apesar de ser importante).

(**) No final, pode-se proclamar a antífona Gloria in excelsis Deo! ou Deo gratias. A sugestão é que se cante o Deo gratias se o Kalendas for feito antes da missa e o Gloria in excelsis Deo! se for feito antes do Glória. A melodia sugerida é a do Gloria VIII (missa De Angelis) (no caso do Deo Gratias pode-se usar tanto a melodia do Amen do Glória quanto a resposta ao Ite missa est da mesma missa).